terça-feira, 27 de julho de 2010

Dia 3 - Yellowstone

Tomado o pequeno almoço, e enviado o primeiro postal, era hora de nos metermos ao caminho. A noite tinha sido bem passada, o cansaço era bastante e tinha tido a oportunidade de estrear o meu colchao de ar: se tenho capacidade para dormir uns dias no chao, apenas com o saco cama de por meio, duas semanas tenho a certeza que iriam deixar muitas mazelas. Assim, decidi fazer um pequeno, mas decididamente correcto, investimento.

Estava um dia bonito, solarengo quando começámos a conduzir. À medida que nos aproximávamos de Cody, a última grande (?) cidade antes de chegarmos ao parque de Yellowstone, começava-se a notar um trânsito algo mais intenso, sobretudo com muitas mais caravanas e motards. A paisagem também mudava gradualmente, de planícies secas e aborrecidas, para alguma elevaçao, com montanhas ainda com vestígios da neve do passado inverno ao fundo. Era nessa direcçao que nos movíamos, e era bem perto que acabaríamos por ficar. Mudava também a elevaçao a que estávamos: se até entao tinhamos estado à volta de 1400m acima do nível do mar, nesta altura começávamos um período de vários dias sempre acima dos 2300m, frequentemente perto dos 3000m.




Cody é uma cidade nomeada depois de William Frederick Cody, também conhecido por Buffallo Bill, um dos fundadores da mesma. É-lhe ainda dedicado um museu, em que se mostra o assassino de índios e búfalos, ups, o grande herói americano que foi. É ainda conhecida como a capital de rodeios do mundo, exemplo da cultura cowboy que aqui se vive, e que faz parte intrínseca da área.


Passada Cody, e atravessado um túnel na montanha, que nos levou de um terreno algo irregular para um vale rodeado de montanhas, que nos levaria até à entrada do parque. Ao longo do vale, montanhas de um e outro lado, e ocasionalmente acompanhávamos também um dos muitos rios que se podem encontrar na regiao. Uma regiao ainda bastante árida, seca, em que a grande maioria da vegetaçao se concentrava perto da água. Aqui e além, ranchos ou pequenos hóteis familiares, que fornecem dormida a quem nao consegue alojamento dentro do parque ou gente na mesma situaçao que nós na noite anterior.



A placa, a placa!! Estávamos mesmo à entrada do parque, era hora de fazer a fotografia da praxe junto da placa, à semelhança do que já tinha feito e se viria a tornar uma rotina (e nao, nao sou louco, pelo menos demasiado, havia mais uns quantos imitadores a fazer o mesmo). Uma vez feita a entrada, a estrada levou-nos rumo ao lago Yellowstone. Mais uma vez, subimos. Mas desta vez, e talvez pela proximidade do lago, existia vegetaçao e sentia-se estar num sítio completamente diferente do de há alguns quilómetros atrás. Pelo caminho, ainda vimos, mesmo ao lado da estrada, alguma neve residual. Em yellowstone, viríamos a sentir na pele, existem grandes amplitudes térmicas, que de certa forma evitam que toda a neve se derreta. A primeira paragem seria o centro de visitantes em Fishing Bridge, para recolher alguns mapas e pedir informaçoes sobre alguns dos trilhos que queríamos fazer. Para lá chegar, teríamos que continuar a conduzir ao longo do lago. Nalguns pontos, pudemos ver fumarolas na margem do lado, com um cheiro bastante característico. Ainda pelo caminho, ainda alguns bisontes, olhando pachorrentamente os humanos que invadiam o seu espaço.




Lago Yellowstone


Recolhidos os mapas e pedidas as informaçoes (por certo, os Rangers que se encontram nos parques sao pessoas bastante afáveis e profissionais, sempre dispostas a ajudar e a esclarecer qualquer dúvida; penso que alguns dos nossos funcionários públicos deviam vir cá fazer um estágio... ou pelo menos assistir-se a mudanças na lei que permitam o despedimento por se ser mau profissional...), dirigimo-nos para o trilho alvo, conhecido por ser dos melhores para se observarem ursos, quer ursos pardos, quer ursos grizzly. Avisaram-nos que sendo só dois nao era seguro irmos sozinhos e que nos deveríamos juntar a um grupo que aparecesse, para aumentar a segurança. Chegando ao início do trilho, encontrámos uma simpática família oriental, à qual nos colámos e que acompanhámos durante o trilho.



O trilho foi feito num trajecto relativamente plano, nao demasiado cansativo ou exigente com o corpo. Ainda assim, embora nao o tenhamos completado, calculo termos feito perto de 5-6 km, ida e volta. Levou-nos pelo meio de uma floresta, por uma zona de incêndios e ainda por uma outra zona que nao percebi, mas que parecia ter sido atingida por um meteorito gigante, tal o estado de devastaçao observado.





Feito o trilho, o resultado final foi um número total de 0 avistamentos de ursos. O maior contacto com animais que tive foi com umas pestes aladas que se empenharam em sugar-me todo o sangue; ao fim do dia contei mais de 16 picaduras de mosquito, a maioria das quais feitas em áreas cobertas por roupa. Eram muitos, dava-lhes igual o protector com o qual me tinha besuntado e pareciam loucos à minha volta. Ao longo desta viagem dei-me conta do fascínio que exerço sobre os mosquitos fêmeas, devo ser extremamente doce tal o fascínio que exercia sobre elas... Tivemos ainda direito a uma chuvada e granizada... sim, granizo em pleno verao e com perto de 30ºC... apenas uma das surpresas que o parque nos reservava!

Tendo em conta que tudo isto foi feito ainda antes de almoço, o plano para o restante dia era ir em direcçao norte, até à área de canyon. O primeiro ponto de paragem seria em Fishing Bridge, que recebe o nome pela ponte que une as duas margens. Notabilizou-se por estar estrategicamente colocada num rio de águas límpidas que fervilha com trutas; mais, extremamente perto situa-se uma importante área de desova. Há uns anos, e para evitar a extinçao da espécie nestas águas, pois o número de efectivos diminuía rapidamente, a pesca foi proibida.



A estrada para norte passava, na maioria do seu trajecto, ao longo da margem oeste de um rio. Uma vista deveras bonita. Numa das paragens, ao lado duns rápidos, encontrámos um simpático pelicano, que pelos vistos é uma ave bastante comum no parque. Ao longo dos dias que lá passei, apenas vi um pelicano, e sempre no mesmo sítio. Seria o mesmo ou seria outra ave?


Mud vulcano, ou vulcao de lama. Uma das áreas mais conhecidas do parque, na qual se encontram fumarolas, géiseres, nascentes de água ou lama a ferver. O cheiro é forte, onde quer que se olhe vê-se vapor e mais vapor. Um local que nao convida à vida, mas que alguns animais, como bisontes, escolheram para ir passar algum tempo. Assim como nós, que decidimos ir fazer o trilho que nos permitiria ver algumas das pequenas maravilhas do parque.

Mud Geiser


Dragon's Mouth Spring




Mud Volcano



Sour Lake

Churning Cauldron



A paragem seguinte seriam Upper Falls e Lower Falls, duas grandes quedas de água ao longo do rio. Com vários trilhos para ser feitos, fizemos a grande maioria deles: ao longo do rio, até ao topo de ambas as quedas de água e ainda até vários pontos de observaçao. Caminhar, caminhámos muito. Num dos trilhos, Uncle Tom's Trail, subimos e descemos ainda um imenso número de escadas ao longo duma das paredes do desfiladeiro, numa descida imprópria para gente que sofre de vertigens como eu. Mas as vistas, o facto de se poder estar naquele sítio, fazem esquecer as vertigens e continuar a andar. Vimos ainda um urso pardo, numa situaçao que, confesso, me fez temer pela vida de algumas pessoas. Na ânsia de fazer uma fotografia, uma grande multidao começou a rodear a zona onde o urso se tinha escondido; para trás, uma descida, pela frente e lados, uma multidao irresponsável que gritava e ia avançando pouco a pouco, em forma de meia lua, encurralando o animal. Quando ele se fartou e começou a correr, obviamente tinha pessoas pela frente; felizmente, foram rápidas para se afastar, caso contrário provavelmente teriam havido feridos.


Upper falls







Lower falls









Inspiration Point

O dia acabava e o cansaço começava a dar mostras de estar conosco. O nosso parque de campismo, em Grant Village, encontrava-se 50 km a Sul. Para lá nos dirigimos, ao longo de rios, ao longo do lago, podendo observar mais algumas das vistas e vida selvagem que o parque nos oferecia.





Dia 2 - Monte Rushmore, Crazy Horse Memorial, Devils Tower

O sol saiu cedo no parque de campismo de Spokane. E com o sol, luz, pássaros e o ruído inerente ao despertar dum parque de campismo cheio. É verao, faz calor, assim que se tenta aproveitar ao máximo as horas de luz existente antes do pico do calor. O plano para este segundo dia era ambicioso: Monte Rushmore, Crazy Horse Memorial e Devils Tower, com muitas milhas em estradas cénicas, logo mais lentas, e um parque de campismo no sul de Montana, perto da entrada norte do parque de Yellowstone.

Com um bom duche e um pequeno almoço reforçado, fizemo-nos à estrada. Amanhecera bonito e solarengo, mas à medida que fazíamos a sinuosa estrada que nos levaria ao Monte Rushmore, acumulavam-se as nuvens cinzentas e ameaçava chover. Existem duas estradas que nos levariam ao destino: uma via rápida, de duas faixas de cada lado, e a estrada que optámos por tomar, quer orientados por um dos guias consultados, quer por recomendaçao do amigo que tinhamos deito no dia anterior. Apesar de em linha recta a distância ser várias vezes inferior aquela que realmente fizemos, a nossa opçao revelou-se do mais acertada. Uma estrada cheia de curvas e altibaixos, construída de propósito para visitar o nosso destino. Estrategicamente colocados, existem três túneis, que abrem para fantásticas vistas sobre o monte.





Uma vez paga a entrada e estacionado o carro, dirigimo-nos até ao terraço de observaçao. A imagem, tal e qual como a vimos incontáveis vezes em filmes e fotografias. A diferença, é a grandiosidade do monumento. Toda uma montanha de granito moldada ao gosto do responsável.



Feitas as fotografias e comprados alguns postais, de volta à estrada. O próximo destino seria Crazy Horse Memorial, ligeiramente a sudoeste. Para lá chegar, escolhemos mais uma estrada cénica, recomendada por várias das pessoas com quem falámos e também em guias. Mais uma estrada cheia de curvas ao longo das Black Hills (montanhas negras). Pelo caminho, passámos pelas famosas needles (agulhas), coluynas de granito causadas pela erosao dos elementos, e pelo lago Sylvan, mais uma área de lazer.

Needles

Needles


Lago Sylvan

Finalmente, chegámos ao nosso destino. Este monumento simula um guerreiro índio, Crazy horse de nome, montado no seu cavalo. Nasceu da ideia de um particular, ao contrário do monte rushmore, e também como resposta ao facto do último ter sido construído em terreno sagrado para a tribo Lakota. Tem sido construída ao longo do tempo através de doaçoes e do dinheiro dos bilhetes, rejeitando qualquer tipo de ajuda do governo. O mentor do projecto já morreu, mas a sua família, esposa e filhos, continuam a trabalhar para que um dia o seu sonho seja feito realidade.

Maquete com montanha ao fundo

Mais umas horas de estrada, mais umas horas ao longo de uma estrada cénica. Entre outras distintas cidades, passámos em Deadwood, a cidade que deu origem à série televisiva com o mesmo nome. Deixávamos South Dakota e entrávamos em Wyoming. A próxima paragem seria Devils Tower (torre do diabo), uma formaçao de origem vulcânica, com muitos, muitos anos. Enorme, a muitos quilómetros de distância, já conseguíamos ver a sua silhueta. E à medida que nos aproximávamos, o seu tamanho nao parava de aumentar. Chegados à base, nao ficámos desiludidos. O seu tamanho é impressionante, sorbetudo atendendo à forma como está "feita": várias colunas hexagonais e pentagonais, de lava solidificada, que se erguem por muitos metros de altura. Fizemos um dos caminhos à volta da base da torre, podendo observá-la de todos os lados. Sendo um paraíso natural para escaladas, vimos alguns loucos/aventureiros pendurados nas suas lisas paredes...






Acabava assim o plano do dia. Era hora de irmos para o parque de campismos. Esperavam-nos muitas horas de viagem e nao estávamos seguros de chegar a horas. À saída do parque, mais uma colónia de caes da pradaria. Aparentemente uma espécie diferente, pois tinham a ponta da cauda negra.



Ao fim de um par de horas, entrávamos na bighorn national forest. Mais uma floresta, numa montanha. O sol começava a por-se e as cores a estar com aquela tonalidade que fazem fazer boas fotografias fácil. A vista era linda, e os olhos deleitavam-se com o que viamos.






Pouco faltava para o anoitecer quando finalmente saímos da montanha. Uma "aberraçao" geológica no meio de vastas planícies, com alguns desfiladeiros bastante impressionantes. Jamais iríamos chegar a tempo a Montana, ainda a longas 3 horas de distância. O nosso plano sofria o primeiro revés, talvez o mais sério em toda a nossa viagem. Teríamos que acampar noutro sítio; nao sei quem inventou os GPS com outras funcionalidades: uma consulta rápida permitiu-nos encontrar uma boa alternativa, bem perto de Yellowstone e ainda mais perto donde nos encontrávamos. Só teríamos que utilizar outra entrada no parque, o que nos iria dificultar ver a porçao nordeste do parque. Feito o telefonema, foi-nos dito que nao teríamos problemas com sítios (quando lá chegámos, nao haviam tendas, mas a parte das caravanas estava cheia). Pouco antes do parque, na aldeia de Shell, encontrámos um famoso bar da zona, considerado um bar de cowboys. Para além de ser engraçado por dentro, tinha ainda um nome original.

Sim, as placas existem mesmo :) vi inúmeras, mas esta sem dúvida alguma bem curiosa, pelo grande número de habitantes (vi uma com 10 habitantes, mas nao deu tempo paraa fotografia)

Dirty Annie's

Parque de campismo, finalmente. Acendemos uma fogueira para fazer o jantar e a dormir cedo, pois um dos destinos mais excitantes esperava por nós no dia seguinte...