domingo, 18 de agosto de 2013

Costa Este 2 - Vermont - Boston

Depois de uma noite bem passada em Burlington, saímos a explorar um pouco da cidade. É uma cidade relativamente pequena, na margem do Lago Champlain, mas suficientemente grande para ter uma Universidade. A cidade cresceu ao longo do lago, com apenas alguns blocos em direcçao a terra. Um misto de edifícios mais antigos com edifícios modernos, algumas colinas, uma marina, tornam a cidade num local bastante aprazível e pitoresco. 

After a well spent night in Burlington, we decided to explore the town for a little bit. It is a relatively small city, stretching along lake Champlain shoreline, but big enough to have a University. The town is a mixture of older and newer buildings, spread in hills along the lake, going just a little bit into land. It's a very interesting and cute place, definitely worth some time to explore.

Marina


À saída da cidade, como nao podia deixar de ser... mais uma cervejaria :) Magic Hat, uma cervejaria local que tenta usar exclusivamente produtos da área. Local, mas com uma grande distribuiçao, pois consigo encontrar algumas das suas cervejas aqui por Indiana. A marca tem fama de ser algo "hippie" e a verdade é que o recinto nao era demasiado convencional. Desde o exterior, como podem ver com trabalho em metal e o que parece ser uma torre (?) ao interior, um pouco mais para o escuro, cheio de cores... Nao se pagava para experimentar a cerveja, tendo cada pessoa 4 pequenos copos para experimentar. A cerveja deles nao é nada do outro mundo, é boa mas nao excepcional, mas de vez em quando têm umas experiências deveras interessantes (e saborosas). Desta vez, aquela que mais se destacava era uma em que a base era batata doce, local, em vez do cereal mais normal. Um conceito interessante, mas nao posso dizer que tenha gostado.

In the outskirts of Burlington, another brewery: Magic Hat. This is a brewery that tries to use local products and that has several beers that are exclusively sold in Vermont. Although is small it has quite a wide distribution, and we can find it as far as Indiana. The brand, as well as Vermont, is known to be a bit alternative, and that could be seen in the building and inside, with dim lights and lots of colors. The tastings were free and each of us was entitle do have 4. I end up trying the beers sod only in Vermont, as well as a beer made with local sweet potato. None of the beers was exceptional, but they were all different and quite interesting, and to me, that how this brand is: good quality and very interesting experiments, with only 1 or 2 outstanding beers.

O exterior/The outside




 A próxima paragem seria algo mais saborosa. E também algo que ambos iríamos apreciar, já que embora a Maggie venha comigo às cervejarias, raramente prova pois nao gosta de cerveja. No meio do nada, no Vermont rural, numa aldeia, esconde-se uma das fábricas de gelado mais conhecidas no planeta: Ben & Jerrys. Sao uma marca local, também com uma enorme sensibilidade social (deixaram de fazer o gelado com Oreos pois os ingredientes das bolachas nao cumpriam com o que eles designam de comércio justo, ou seja, o preço justo ao produtor e nao os típicos trocos que as multinacionais oferecem por trabalho em condiçoes difíceis e muitas vezes degradantes) que teve como fundadores duas pessoas. Os nomes? Vejam lá se adivinham...

Next stop would be a bit sweeter, and more to the liking of Maggie, since she's not the biggest beer fan. Right in the middle of Vermont, literally in the middle of nowhere, lays Ben & Jerrys factory, the place where it all started. This company is know for their tasty ice cream (i could name a few of them) and also for their social mission. They defend fair trade and they stopped using oreos on their ice cream, since it didn't comply with their principles.


a fábrica/the factory

O complexo era enorme e atulhado de gente. Mesmo no meio do nada, estava cheio de gente... pensámos que íamos ser dos poucos a ir até lá, mas como estávamos enganados. A empresa tem tudo muito bem organizado, com excursoes organizadas (que se pagam mas nao demasiado caras) que nos explicam a história e a missao da empresa e nos levam pelo interior da fábrica, assistindo às diversas etapas de produçao e com uma amostra no final! 

The whole factory was huge, and interestingly and surprisingly, packed. Seems everyone had the same idea: driving to distant Vermont, to the middle of nowhere, to see the factory. They have it well organized: a tour that tells us about the history and mission of the company, while walking along their "assembly" lines. And at the end, we got to try one of their experimental ice creams that may soon come to a store near you. It's a secret, but i will tell you is blue ;)


 



O cemitério dos sabores. Aqui jazem os sabores retirados do mercado...The flavor cemetery
 
Estaçao de comboio convertida em café (e famoso)/coffee house

Quando se pensa em Vermont, normalmente esse pensamento vem associado a campo, ski e... maple syrup (xarop de ácer/plátano). Este xarope é usado em panquecas e outras sobremesas e é algo muito usado aqui nos EUA. E como Vermont é um dos grandes produtores deste xarope, fomos ver uma quinta onde o mesmo era produzido. O xarope é obtido no inverno, em que os agricultores fazem um buraco no tronco da árvore e recolhem vários litros de seiva. Esta é posta a ferver e é reduzida, concentrando minerais e açúcares. 25 litros de seiva dao origem a 1 litro de xarope, tornando o processo longo e moroso e o produto final caro. Esta quinta onde fomos produzia o seu xarope e queijo, tendo uma pequena sala onde nos davam a provar as 4 variedades mais comuns do xarope e queijos. Acabámos por comprar xarope para oferecer a várias pessoas (mesmo nos supermercados o verdadeiro xarope é caro e difícil de encontrar, e nesta quinta vendiam amostras pequeninas, ideias para oferecer). E eu acabei também por comprar um queijo fumado, um dos melhores queijos que comi por estas terras (os americanos têm um conceito algo diferente do que é queijo bom... ou mesmo queijo :s)

When people think about Vermont they think about country, ski and maple syrup. Since the state is one of the biggest producers of such a nice treat, there are several maple syrup farms. We stopped in one of them, where we learned a bit about the history of the syrup, how it is processed (you need 25 gallons of sap to get 1 single gallon of syrup!!!). The farm had a tasting room, where we got to try 4 varieties of syrup, as well as some cheeses. And, of course, we end up buying some syrup and cheese...

Máquina processadora de seiva/sap processing unit

Máquina processadora de seiva/sap processing unit

Altura de neve em diferentes anos/snowfall height in several years

Tubo colector de seiva/Sap collecting tube


Saindo de Vermont, atravessámos New Hampshire e entrámos em Massachusetts. Como prémio por termos acabado esta parte da viagem, uma chuva torrencial no meio de tráfego intenso... fez-me lembrar porque odeio chuva e grandes cidades. Já em Boston, procurámos o nosso hotel, no centro da cidade e fomos dar um pequeno passeio, a fazer tempo até ao jantar. Boston é uma das cidades mais velhas nos EUA, e a arquitectura reflecte o mesmo, parecendo uma cidade mais europeia que as restanres cidades que visitei.

We left Vermont, crossed New Hampshire, entered Massachusetts and were blessed with heavy traffic and a huge downpour. Just another reminder on how ill prepared I am to leave in a place with rain and lots of traffic.In Boston, and after finding our hotel, we decided to go for a short walk downtown, while making some time for dinner. It's an old city, kind of European style. One of the most European cities I've found around here though.







Memorial ao holocausto/Holocaust memorial

Memorial ao holocausto/Holocaust memorial

Memorial ao holocausto/Holocaust memorial

O jantar seria na Union Oyster House, um dos restaurantes mais antigos dos EUA e conhecido pela suas ostras e lagosta. Um restaurante que é um bom exemplo de como explorar turisticamente um sítio: enche-lo, mas dar comida tao boa e proporcionar um ambiente tao engraçado que a experiência tem que ser boa. Comemos ostras como aperitivo, e como prato principal eu comi lagosta (servida em dose para elefante, com batatas, milho e mais de meio quilo de mexilhao) e a Maggie "scalops", um molusco cujo nome nao conheço em Inglês mas que é muito apreciado por aqui. E a título de curiosidade, o porto com maior captura e volume de vendas do mesmo é em New Bedford, um sítio cheio de Portugueses e com uma frota possuída e operada maioritariamente por compatriotas nossos!

Dinner would be at the Union Oyster House, a very old and typical restaurant in Boston, know for their sea food. After some oysters, we ate scallops and lobster with mussels. Big portions, we we pretty stuffed at the end of dinner...





Depois de jantar, foi tempo de rolar, quer dizer, andar de volta ao hotel. Estávamos cansados e sobretudo cheios... ainda tivémos tempo para ver a baixa à noite, bem organizada e bonita.

After dinner, we went for a short walk downtown, a very pleasant and relaxing walk. Soon we were ready to sleep and getting ready for the next day




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Costa Este - Indiana-Vermont

Com motivo de celebrar o 4 de Julho e sair desta área, eu e a Maggie decidimos fazer uma visita até à costa Este a visitar a sua família. O plano era ambicioso, em 8 dias fizemos no total algo mais de 3000 km e 8 estados diferentes. Claro está que alguns deles foram apenas de passagem, mas noutros dormimos, comemos e vimos coisas bastante interessantes.

To celebrate the 4th of July and to leave the Midwest for a bit, me and Maggie decided to make a road trip until the East Coast to visit her family.  The plan was ambitious, over 2000 miles in just 8 days, going through 8 different states. It's true some of them we just drove by, but in some others we slept, ate and saw things very interesting.


A viagem seria repartida em várias etapas. Começámos em South Bend (letra H no mapa) no Sábado, e nesse dia tentámos fazer o maior número possível de milhas. Depois de muito debater pensámos que o ideal seria conduzir o máximo possível no primeiro dia, para depois podermos aproveitar os restantes. A viagem de South Bend até Cleveland, Ohio, decorreu sem problemas. É uma área plana, demasiado plana, em que raramente há algo que se possa chamar elevação. Em Cleveland parámos para almoçar (e beber umas cervejas) na Great Lakes Brewery, uma das marcas de cerveja que gosto de beber. Aqui nos EUA há um enorme movimento de cerveja artesanal, e são vários milhares as cervejarias de pequena a enorme dimensao, algumas melhores que outras, mas sempre com cervejas bastante interessantes. E como desde há uns 2 anos que me comecei a interessar por isto e a provar um grande número de cervejas, esta era uma paragem que tinha que ser feita.

The trip would be split into several stages. We started in south Bend (letter H in the map) on Saturday, and we tried to do as many miles as possible. After some thought, we decided the ideal would be to drive as far as we could on Saturday, so we could really enjoy the remaining days. The trip until Cleveland went with no problems. it's a flat are, too flat, where there is barely anything you can call a hill. In cleevland we stopped for lunch (and have a few beers) at the Great Lakes Brewery, one of the breweries whose beer I enjoy drinking. Here in the US, the craft beer movement is quite big, with several thousands of them, ranging from small with only local production/distribution, until the major ones. Some are better than others, but there are always some interesting beers to try. And since I've became interested on it on the last 2 years, this was a stop that had to be done.




Depois de um bom almoço, tempo de acumular milhas e de fazer a parte mais chata da viagem - campos de milho e de soja, uma paisagem cansativa e aborrecida. Não iríamos parar até Rochester, já no estado de Nova Iorque. Já era de noite e começávamos a ver veados na berma da estrada, pelo que achámos que o ideal seria parar, descansar e recomeçar no dia a seguir. Afinal, nao iríamos fazer muitas mais milhas e acertar em cheio num veado no meio da estrada era algo que nao desejávamos.

After lunch, it was time to make some more miles and make one of the most boring parts of the trip - corn fields, soy fields, a boring and tiresome landscape. We wouldn't stop until Rochester, in the State of New York. It was night and we  were starting to see too many deers along the road, so we decided it was time to stop, rest and start over the next day. After all, we wouldn't drive much further and hitting a deer was something none of us wanted.

Depois de uma boa noite de descanso, voltámos à estrada. Ao fim de pouco mais de uma hora, decidimos fazer a primeira paragem, nos chamados Finger Lakes (lagos dos dedos), uma zona vitivinícola, com vários lagos com orientação Norte-Sul, que com uma certa imaginação se assemelham a dedos. Na primeira vinha em que parámos, a primeira peripécia: entramos e o empregado olha para nós com cara de parvo. E nós sem perceber o porquê. Perguntou-nos o que queríamos e nós que queríamos fazer uma prova de vinhos, ao que na sua cara ainda incomodada nos diz que ainda estavam fechados (portões abertos, porta aberta e nenhum sinal à porta?! - à saída vimos um cartaz com o horário no portão, mas como este estava aberto para dentro da quinta, apenas era visível à saída...). Como apenas faltava meia hora para abrirem lá acedeu a nos servir o vinho e a falar um pouco connosco. Com esta vinha, ficámos pouco convencidos e decidimos ir a outra. Esta, já aberta, era muito mais agradável e profissional. Provámos vinho, dois dedos de conversa com a empregada e de volta à estrada. 

After a good night of rest, we hit the road again. After a bit more than one hour, we made the first detour. We were going to try a few wineries in the so called finger lakes, a big wine producing region in the State of New York. The lakes run North-South, there are a few of them, and with a certain imagination you can see the finger ;) In the first winery, the first funny moment. We enter, and the employee lokes at us with a puzzled face, perhaps even bothered. We could not understand why.. we asked us what we wanted (we're at a winery, duh...), we said we wanted to try the wines and he just says they were still closed (the gates were open, the door was open, no times at the door... closed?! ate the exit we saw the sign - on the outside face of the gate, that since it opened into the property, you could only see when exiting... brilliant). Since there was just an half hour left until the opening, we poured us wine and made some conversation. We were not too convinced with this winery (nor with its attendant) and we drove a bit more until the next. This one was open, much more pleasant and professional. We tried a few wines, had a small chat with the waitress and went back to the road.

Mais uma hora e saímos da autoestrada. Era tempo de virar a Norte e atravessar as montanhas de Adirondack, uma das últimas grandes áreas selvagens do nordeste dos EUA. Como o nome indica, esta era já uma zona de colinas, montanhas, bastante verdejante. É uma conhecida zona de recreio, de acampamentos, de caminhos para nos perdermos na natureza. Nós apenas conduzimos uma rota cénica, o nosso destino era um pouco mais além. Vários rios, lagos com nomes apetecíveis e engraçados como lago plácido, lago agradável, lago índio, lago "tupper"... fomos vendo vários, passando por agradáveis e pitorescas aldeias que provavelmente apenas têm vida no verão. 

Another hour of drive and we decided to leave the toll-road. It was time to turn north and drive through the Adirondack Mountains, one of the last big wilderness areas in the Northeast of the USA. This is already a hilly area, with mountains, quite green. It's a known recreational area, full of small villages, camping sites and trails.We only drove through a scenic rout, our destination was a bit farther away. Several lakes along the road, Lake Placid, Tupper Lake, Pleasant lake... all of them with a small village, with small hotels and cottages. Although this places were very pleasant and tempting, they seem to be of seasonal life.

Algures na estrada... Somewhere along the road...

Tupper Lake

Tupper Lake

Tupper Lake

Tupper Lake

Tupper Lake


A rota acabava no lago Plácido, um lago que já serviu de petexto a um filme de terror com um monstro, mas, mais verosímil, a dois Jogos Olímpicos de Inverno, em 1932 e 1980. Foi nestes últimos Jogos Olímpicos que os EUA bateram a entao URSS em hóquei no gelo, dando azo ao filme "Miracle on ice".

The route finished in Lake Placid, a lake that has been used during a scary movie, with the same name, but it has also hosted 2 Winter Olympics, in 1932 and 1980. It was also in 1980 that the US hockey team beat the russians, in a game that would jump into the screen in the movie "Miracle on ice".


Centro Olímpico/Olympic center





Depois de uma pausa para fotografias e um merecido descanso, tempo de fazer a última etapa do dia: conduzir até Burlington, no estado de Vermont. O percurso era simples: tomar a estrada em direcçao Norte, até à fronteira com o Canadá, e daí cruzar a ponte sobre o lago Champlain até Vermont e depois virar a sul, atravessando as ilhas, até Burlington. A estrada até Champlain foi provavelmente a parte mais cénica da viagem: no fundo de um vale, com montanhas de um lado e outro e ao longo de um rio, com águas bastante tumultuosas. Foi uma parte bastante bonita da viagem. Chegados a Champlain, encontrámos uma parada, com as estradas cortadas. A polícia continuava a enviar-nos em direcção Norte, e eu cada vez mais aflito, pensando que por acidente podia cruzar a fronteira e meter-me em sarilhos... claro está que isso não ia acontecer :) A ponte cruzou-se sem problemas, é uma ponte num sítio algo curioso, mas a verdade é que torna a travessia bastante mais prática. De um lado da ponte Canadá, do outro EUA. No lado Canadiano, numa ilha, uma fortificação que em tempos longínquos controlava a navegação no lago Champlain.

After a stop for photos and a deserved rest, time to start the last part of the trip: drive until Burlington, in the state of Vermont. it should be a simple rout: drive North until the border with Canada, cross the bridge over Lake Champlain until Vermont, and from there turn south, cross the islands and reach Burlington. The road until Champlain was probably the most scenic part of the trip: a road at the bottom of a valley, mountains on both sides and along a quite tumultuous river. Once we reached Champlain, a few police detours due to a parade took us until the border with Canada, a moment that didn't please me too much since I didn't want by any way to cross it, even by accident. From there, we crossed the bridge, watching Canada in one side and the US on the other. On the Canadian side, an old fort, reminiscent of the old days, controlled the boat traffic in Lake Champlain.

Fortaleza/Fort


A viagem pelas ilhas fez-se sem sobressalto. É uma área agrícola, mas bastante bonita. Entre cada ilha pontes sobre o lago. Cada vez que as cruzávamos procurávamos Champ, o monstro que se diz existir aqui... não tivemos muita sorte. 

The trip through the islands was quiet and pleasant. It's a nice rural area. Between each island, bridges crossing over the lake. Every time we crossed them we looked for Champ, the monster who is said to live in Lake Champlain... we were not very lucky.

Lake Champlain

Lake Champlain


Burlington estava cada vez mais perto e em pouco tempo chegámos. Encontrámos o sítio onde íamos ficar, um adorável Bed and Breakfast e fomos até uma pizzaria jantar (curiosamente também faziam a sua cerveja, pelo que tive que a experimentar...). À saída, tempo para uma enorme molha, tinha comçado a chover...

Burligton was getting closer and it didn't take us much to arrive. We found the place where we would stay, a lovely Bed and Breakfast, and we went for dinner. Curiously, the place not only made amazing pizzas, but also beer, which I had to try. At the exit, time to get poured down, it was raining quit heavily...

terça-feira, 9 de abril de 2013

4 anos

Hoje é o aniversário de uma data que marcou, e continua a marcar, a minha vida. Foi há quatro anos atrás que embarquei na minha aventura pelos Estados Unidos.

Não foi uma decisao fácil. Depois de 4 anos em Espanha, voltar a Portugal tinha sido algo que eu desejava. Com a promessa de poder fazer investigaçao, de possibilidade de progressao profissional (e económica), nao foi difícil decidir voltar. A minha família, os meus amigos, o meu país, tudo pesou, e de que maneira. Em poucos meses tudo mudou. Dei-me conta das mentiras que me tinham contado. Que me tinham contratado pelo meu Doutoramento mais do que pelos meus méritos científicos. Que a progressao nao era mais que uma miragem. Comecei a odiar os domingos, quando, meses antes, os adorava, pois significavam nao o fim do fim de semana, mas o início de mais uma semana de descobertas. As recompensas pelo trabalho posto, pelas muitas horas perdidas e extra, eram apenas mais trabalho, sem qualquer tipo de reconhecimento. E o pior, ser recriminado por fazer bem o trabalho que me pediam e para o qual era pago, em vez de fazer vontades a certos senhores... Valeu pelos colegas, pelos amigos que fiz em Coimbra. Alguns já conhecia, tinham sido meus professores. Outros vim a conhecer. A transiçao de colegas para amigos foi natural, e foi o que me manteve a flote durante muito tempo.

Um dia veio a mensagem da minha ex-orientadora de Doutoramento. Havia uma vaga em Notre Dame, e perguntou-me se estava interessado. Concorri, sem nenhuma esperança, pois sempre achei que voos americanos eram demasiado para o que eu valia. Mandei o currículo e esqueci. Semanas depois uma mensagem urgente, para lhe ligar. Estavam interessados em mim. Depois de uma série de mensagens, nesse dia ficou decidido que viria para os Estados Unidos. Notre Dame? Pouco ou nada sabia do sítio onde viria a passar os seguintes 4 anos da minha vida. Vim a aprender que era no meio do nada, mas perto de Chicago, num sítio frio, muito frio, e longe do mar. Vim sem saber nada, sem conhecer ninguém, sem saber muito das áreas em que vinha trabalhar. Arrisquei...

Hoje, 4 anos depois, não me posso arrepender. Cresci como pessoa, cresci como cientista. Foi a melhor, e mais maluca, mudança que fiz na minha vida. Estou num sítio que gosto. Faço o que gosto, o que adoro. Aprendi, aprendi muito. Continuo a ter que estudar, a ter que aprender por mim, muitas coisas Mas hoje, purificaçao de proteinas, cristalizaçao de proteinas, cinética enzimática, biologia molecular sao palavras que fazem parte do meu vocabulário, sinto-me à vontade a fazê-las, até sou bom nalgumas. Sou respeitado pelo que faço, ouvem o que tenho para partilhar e a minha opiniaoe valorizada. Nao sou pago nenhuma fortuna, mas faço mais do que fazia em Portugal e, ao contrário do que se passou em ano e meio em Coimbra, em que fui pago 50 euros a mais enquanto Secretário do Departamento sem nunca ter sido aumentado, aqui recebo aumentos (e sou pago a tempo e horas). 

Aprendi e melhorei o meu Inglês, aprendi história americana, viajei um pouco por todo o país. Vi a costa Oeste do Atlântico, pus os pés na costa Oeste do Pacífico e do Oceano Árctico. Conheci pessoas excelentes (e menos excelentes) e outras culturas. E conheci a Maggie, com queme stou há tanto tempo.

Hoje, olho para trás, e continuo a achar que fiz bem. Nao foi fácil, nao é e creio que nunca será fácil estar tao longe da família, dos amigos, daquilo que me habituei a ter por dado em Portugal. Mas por vezes é necessário dar um passo em frente, sem se saber o que nos espera. E este, felizmente, foi dado bem.

No último ano apenas escrevi no blog. Desleixei-me e peço desculpa por isso. Às vezes custa depois de um dia de trabalho sentar-me aqui e escrever. Mas faz-me bem, e ao mesmo tempo posso partilhar a minha vida com aqueles de vocês que se continuam a importar com ela. Serei mais cuidadoso com o blog, tentarei escrever mais frequentemente. E continuarei a mostrar um pouco o que é viver na América...