... mais uma vez vi do que a américa é capaz: extremismo religioso. Mas já lá vamos. Numa universidade deste tamanho e que pretende estar entre a elite das universidades norte-americanas, é normal que para além das actividades escolar e científica, procure destacar-se noutras. O desporto é uma delas, das quais se destaca o futebol americano, mas que possui que eu saiba pelo menos uma atleta olímpica e algumas equipas que sao campeas nacionais. Tem também um edifício exclusivamente dedicado a actividades culturais, como já uma vez referi aqui, com um número de actividades bastante significativo.
Esta sexta-feira fomos ver um filme chamado: "Goodbye Solo", de Ramin Bahrani, um dos talentos emergentes, segundo dizem, do cinema norte-americano. Um filme bonito, com um final triste, mas que recomendo vivamente que vejam. E, surpresa das surpresas, no final do filme tivemos o próprio director na sala, a falar connosco. Mal sabia eu como iria terminar a noite. Para mim, o filme trata apenas da amizade entre duas pessoas completamente diferentes, que demonstram cada uma à sua maneira. Uma delas taxista, imigrante, e a outra um idoso que decidiu morrer numa data, num local. específicos E foi esta a minha interpretaçao, assim como a da maioria das pessoas naquela sala. Qual nao é o meu espanto, quando surge um "gentleman" que manifesta a sua preocupaçao por ninguém ver a mensagem que se está a passar: a permissividade perante a eutanásia. E faz um ataque, quanto a mim e a uma parte significativa da audiência, completamente descabido e exagerado. Com um outro ainda que tímido acenar de cabeça manifestando acordo, de uma reduzida parte da audiência. Nao acredito que tenha sido o primeiro ataque deste género, pois o director soube responder à altura. Continuou o debate e a última participaçao da noite foi para uma senhora na primeira fila. Quase que a chorar, num êxtase religioso, descarrega um sem número de balelas, de como Deus está entre nós, de como isto e aquilo.
Saí do cinema com uma sensaçao estranha, de mal estar atrever-me-ia a dizer. Frequentemente esqueço-me que trabalho numa escola católica, onde a grande maioria das pessoas é católica. Pouco depois de aqui ter chegado, tivemos a visita do Obama, que vinha para a cerimónia de graduaçao. Nessa altura, e devido ao facto de nao concordarem com parte da sua ideologia, tivemos aqui manifestantes durante semanas, contra o aborto, a queixar-se. Um aviao rondava o campus todo o dia, com um cartaz anti-aborto, nas várias entradas da universidade gente, com carrinhos de bebés com bonecas, exibiam cartazes com imagens de abortos verdadeiros. Certo que toda a gente tem o direito a manifestar a sua opiniao, mas sinto que, se por um lado existe um liberalismo talvez extremo, por outro, também se pode encontrar um fervor religioso que nunca tinha presenciado, e isto que vivi em dois países marcadamente católicos. Aparentemente nao é impressao minha: em conversa com americanos, pelos visto há uma ruidosa minoria de religiosos que se comporta desta forma.