Hoje é o aniversário de uma data que marcou, e continua a marcar, a minha vida. Foi há quatro anos atrás que embarquei na minha aventura pelos Estados Unidos.
Não foi uma decisao fácil. Depois de 4 anos em Espanha, voltar a Portugal tinha sido algo que eu desejava. Com a promessa de poder fazer investigaçao, de possibilidade de progressao profissional (e económica), nao foi difícil decidir voltar. A minha família, os meus amigos, o meu país, tudo pesou, e de que maneira. Em poucos meses tudo mudou. Dei-me conta das mentiras que me tinham contado. Que me tinham contratado pelo meu Doutoramento mais do que pelos meus méritos científicos. Que a progressao nao era mais que uma miragem. Comecei a odiar os domingos, quando, meses antes, os adorava, pois significavam nao o fim do fim de semana, mas o início de mais uma semana de descobertas. As recompensas pelo trabalho posto, pelas muitas horas perdidas e extra, eram apenas mais trabalho, sem qualquer tipo de reconhecimento. E o pior, ser recriminado por fazer bem o trabalho que me pediam e para o qual era pago, em vez de fazer vontades a certos senhores... Valeu pelos colegas, pelos amigos que fiz em Coimbra. Alguns já conhecia, tinham sido meus professores. Outros vim a conhecer. A transiçao de colegas para amigos foi natural, e foi o que me manteve a flote durante muito tempo.
Um dia veio a mensagem da minha ex-orientadora de Doutoramento. Havia uma vaga em Notre Dame, e perguntou-me se estava interessado. Concorri, sem nenhuma esperança, pois sempre achei que voos americanos eram demasiado para o que eu valia. Mandei o currículo e esqueci. Semanas depois uma mensagem urgente, para lhe ligar. Estavam interessados em mim. Depois de uma série de mensagens, nesse dia ficou decidido que viria para os Estados Unidos. Notre Dame? Pouco ou nada sabia do sítio onde viria a passar os seguintes 4 anos da minha vida. Vim a aprender que era no meio do nada, mas perto de Chicago, num sítio frio, muito frio, e longe do mar. Vim sem saber nada, sem conhecer ninguém, sem saber muito das áreas em que vinha trabalhar. Arrisquei...
Hoje, 4 anos depois, não me posso arrepender. Cresci como pessoa, cresci como cientista. Foi a melhor, e mais maluca, mudança que fiz na minha vida. Estou num sítio que gosto. Faço o que gosto, o que adoro. Aprendi, aprendi muito. Continuo a ter que estudar, a ter que aprender por mim, muitas coisas Mas hoje, purificaçao de proteinas, cristalizaçao de proteinas, cinética enzimática, biologia molecular sao palavras que fazem parte do meu vocabulário, sinto-me à vontade a fazê-las, até sou bom nalgumas. Sou respeitado pelo que faço, ouvem o que tenho para partilhar e a minha opiniaoe valorizada. Nao sou pago nenhuma fortuna, mas faço mais do que fazia em Portugal e, ao contrário do que se passou em ano e meio em Coimbra, em que fui pago 50 euros a mais enquanto Secretário do Departamento sem nunca ter sido aumentado, aqui recebo aumentos (e sou pago a tempo e horas).
Aprendi e melhorei o meu Inglês, aprendi história americana, viajei um pouco por todo o país. Vi a costa Oeste do Atlântico, pus os pés na costa Oeste do Pacífico e do Oceano Árctico. Conheci pessoas excelentes (e menos excelentes) e outras culturas. E conheci a Maggie, com queme stou há tanto tempo.
Hoje, olho para trás, e continuo a achar que fiz bem. Nao foi fácil, nao é e creio que nunca será fácil estar tao longe da família, dos amigos, daquilo que me habituei a ter por dado em Portugal. Mas por vezes é necessário dar um passo em frente, sem se saber o que nos espera. E este, felizmente, foi dado bem.
No último ano apenas escrevi no blog. Desleixei-me e peço desculpa por isso. Às vezes custa depois de um dia de trabalho sentar-me aqui e escrever. Mas faz-me bem, e ao mesmo tempo posso partilhar a minha vida com aqueles de vocês que se continuam a importar com ela. Serei mais cuidadoso com o blog, tentarei escrever mais frequentemente. E continuarei a mostrar um pouco o que é viver na América...